Minha graduação em Filosofia me ensinou que a Política é, antes de tudo, uma prática profundamente humana, voltada ao bem comum e à construção de uma sociedade mais fraterna. Ao estudar os grandes pensadores — de Aristóteles a Santo Tomás de Aquino, de Maquiavel a Hannah Arendt — descobri que a verdadeira política não se reduz a estratégias, disputas ou interesses particulares.
Ela nasce do cuidado com o outro, da responsabilidade compartilhada e do compromisso com aquilo que é justo. Cada teoria que estudei, cada autor que mergulhei, ampliou meu olhar, mas também provocou meu coração: afinal, que tipo de sociedade estamos construindo quando esquecemos que cada pessoa traz consigo uma dignidade que não pode ser violada?
A Filosofia me ensinou que nenhuma decisão política é neutra. Toda escolha carrega uma visão de ser humano, de dignidade e de futuro. E foi nesse caminho intelectual que percebi algo ainda mais profundo: a razão, sozinha, é insuficiente. A política, quando desconectada da ética e da espiritualidade, corre o risco de se tornar apenas uma disputa de poder. Foi então que meu coração encontrou repouso e direção na Doutrina Social da Igreja — um verdadeiro tesouro que ilumina, com a força do Evangelho, a vida em sociedade.
O Compêndio da Doutrina Social afirma que “a política é uma forma eminente de caridade” (CDSI, 205), e essa frase ecoou dentro de mim como um chamado. Afinal, o que é a caridade senão o amor em ação? E o que é a política, senão a organização concreta da vida para que cada pessoa possa florescer com dignidade? A Igreja nos lembra que a dignidade humana é o centro de tudo (CDSI, 106), e isso sempre tocou profundamente meu espírito. Nenhuma ideologia, nenhum projeto, nenhum cálculo pode se sobrepor ao valor inestimável de cada pessoa criada à imagem e semelhança de Deus.
A Bíblia confirma e aprofunda esse chamado. São Paulo nos exorta: “Não vos conformeis com este mundo, mas transformai-vos pela renovação do vosso espírito” (Rm 12,2). Jesus nos ensina: “Bem-aventurados os pacificadores, porque serão chamados filhos de Deus” (Mt 5,9). Isso significa que a política digna, guiada pelo Espírito Santo, não pode nascer da mentira, da manipulação, da divisão. Pelo contrário: ela precisa gerar reconciliação, verdade, paz e serviço.
E aqui está um ponto essencial do meu aprendizado: na vida pública, somos constantemente tentados a agir como o “acusador”, como o próprio diabo, que segundo Apocalipse 12,10 “acusa os irmãos dia e noite”.
Mas o Evangelho não nos chama a apontar dedos — chama-nos a estender mãos. A Doutrina Social reforça isso quando afirma que “a verdade é a força da paz” (CDSI, 495). Se queremos transformar o mundo, não podemos ceder às narrativas de ódio, ao apelo fácil das brigas e das inimizades. Sofremos demais, como sociedade e como pessoas, quando nos deixamos guiar pelo espírito da divisão.
Por isso acredito profundamente que a política, para ser genuinamente transformadora, precisa ser feita sob a docilidade ao Espírito Santo. Ele é quem nos capacita a amar na prática, a buscar o bem comum mesmo quando isso exige sacrifício, a construir pontes onde o mundo prefere muros. Ele nos recorda que “onde está o Espírito do Senhor, aí está a liberdade” (2Cor 3,17).
Minha formação filosófica me deu a clareza racional, mas foi a espiritualidade cristã que me deu o propósito. Hoje entendo que pensar, agir e me posicionar não são apenas atos intelectuais — são atos de fé e serviço. Se a política é caridade, então meu compromisso é unir competência, consciência moral e amor fraterno para servir a comunidade.
Porque, no fim, só existe uma verdadeira vitória: aquela que promove a dignidade, a paz e a esperança na vida das pessoas. Essa é a política que desejo viver — aquela iluminada pela razão, sustentada pela fé e guiada pelo Espírito Santo.