Eis que faço novas todas as coisas

Há um certo tipo de apego que, embora pareça zelo, pode ser na verdade um obstáculo à ação renovadora de Deus: o apego ao passado. O saudosismo exagerado é, muitas vezes, a forma mais sutil do medo — o medo do novo de Deus.

Algumas pessoas, especialmente aquelas que servem há muitos anos na Igreja, podem sentir-se inseguras diante das mudanças, das novas realidades e dos novos rostos que surgem. Inconscientemente, temem ser deixadas de lado, substituídas por jovens ou por quem pensa e faz diferente.

Mas o Evangelho é claro: em Cristo, tudo se faz novo. O Espírito Santo é dinâmico, criativo e livre. Ele sopra onde quer, e quem tenta aprisioná-lo em velhas estruturas acaba sufocando a própria graça.

O apego excessivo a “cargos”, funções ou modos antigos de fazer as coisas pode, pouco a pouco, transformar o serviço em um espaço de poder — e não de amor. Quando o ministério se torna um trono, a missão perde a leveza. E quando o medo de perder o lugar fala mais alto do que o desejo de ver Deus agindo, a pessoa começa a colocar limites àquilo que o Senhor quer realizar.

Jesus, porém, não nos chamou para sermos guardiões do que é velho, mas testemunhas do que Ele está fazendo de novo. Ele quer renovar corações, estruturas, comunidades, e também os nossos modos de servir. Quem tem o coração livre, alegra-se ao ver outros florescerem. Quem está maduro na fé, não teme ser esquecido, pois sabe que o essencial não é o cargo, mas o amor com que se serviu.

A Igreja é viva. Ela cresce, amadurece, se transforma. O jovem que hoje aprende pode amanhã ensinar; o servo que hoje guia deve, em algum momento, deixar-se conduzir. É a dinâmica natural do Reino de Deus, que é feito de comunhão e não de competição.

Por isso, o convite do Senhor é à confiança: deixar-se renovar é um ato de fé. É acreditar que o mesmo Deus que começou a boa obra em nós há anos continua agindo, agora, talvez por meio de outros instrumentos.

O saudosismo espiritual aprisiona. Mas a lembrança agradecida do passado liberta. Devemos conservar a memória das graças vividas, sim — mas sem impedir que novas graças aconteçam.

Em toda renovação, há um pequeno “morrer”: morrer para o controle, para o status, para a vaidade espiritual. Mas há também uma ressurreição — a alegria de ver a Igreja viva, jovem, fecunda, movida pelo Espírito que não se cansa de criar.

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