A convivência de Jesus com os fariseus é um tema recorrente nos Evangelhos e revela muito não apenas sobre a mentalidade religiosa de sua época, mas também sobre os desafios atuais que enfrentamos em nossa sociedade, tanto na esfera política quanto na vida religiosa. Ao estudarmos a forma como o Senhor tratava os fariseus, podemos discernir melhor nossas próprias atitudes diante das tensões e contradições da vida cristã hoje.
1. Quem eram os fariseus?
Os fariseus eram um grupo religioso influente no tempo de Jesus. Defensores da Lei de Moisés, tinham como missão preservar as tradições e costumes do povo de Israel, sobretudo diante da influência estrangeira. A princípio, seu zelo tinha um valor positivo, mas com o tempo muitos se apegaram mais às formas externas do que ao coração da Lei.
Jesus os denuncia por essa postura:
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“Este povo me honra com os lábios, mas o seu coração está longe de mim” (Mt 15,8).
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“Ai de vós, escribas e fariseus hipócritas, porque sois semelhantes a sepulcros caiados: por fora parecem belos, mas por dentro estão cheios de ossos de mortos e de toda podridão” (Mt 23,27).
Aqui está a chave: o problema não estava na defesa da Lei em si, mas na hipocrisia e na incoerência.
2. A convivência de Jesus com eles
Jesus não evitava os fariseus. Pelo contrário, com frequência ia às sinagogas e participava dos debates com eles. Às vezes, jantava em suas casas (cf. Lc 7,36; Lc 14,1). Ele não negava diálogo, mas sua presença revelava a verdade.
Enquanto uns se fechavam e tramavam contra Ele, outros, como Nicodemos (Jo 3,1-2), se aproximavam buscando luz. Isso mostra que nem todo fariseu era inimigo de Cristo, mas a mentalidade legalista e hipócrita que dominava parte deles precisava ser desmascarada.
3. Atualizando para hoje
O mesmo espírito farisaico continua presente. Não se trata apenas de um grupo histórico, mas de uma tentação permanente: usar a religião ou a política para se autopromover, aparentar virtude ou defender ideologias em vez de buscar a verdade e a conversão.
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Hipocrisia religiosa: Muitos se autodenominam conservadores, mas vivem frequentando festas pagãs, exaltando comportamentos mundanos e incoerentes com o Evangelho. Conservadorismo verdadeiro não é apenas discurso, mas vida conforme a fé.
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Hipocrisia política: Assim como os fariseus manipulavam a Lei, hoje vemos políticos, sejam de direita conservadora ou de esquerda comunista, que instrumentalizam valores religiosos apenas para atrair eleitores.
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Hipocrisia social: Jesus denunciava quem colocava fardos pesados sobre os outros, mas não os movia com um dedo (Mt 23,4). Quantas vezes vemos líderes, religiosos ou políticos, exigindo sacrifícios do povo enquanto vivem em contradição?
4. O ensinamento de Jesus
Jesus ensina que o essencial está no interior:
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“O que sai da boca vem do coração, e é isso que torna o homem impuro” (Mt 15,18).
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“Aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração” (Mt 11,29).
Portanto, o cristão deve viver um equilíbrio: não cair no relativismo que abandona a verdade, mas também não se refugiar numa postura rígida que apenas julga sem misericórdia.
5. Caminho para nós hoje
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Discernimento político: Nem o “conservadorismo” mal vivido nem o “comunismo” materialista são a solução. O cristão deve iluminar a política com o Evangelho, buscando justiça e verdade, e não apenas ideologia.
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Autenticidade religiosa: A fé não é um rótulo, mas vida coerente. Não adianta criticar o mundo e ao mesmo tempo mergulhar nas práticas mundanas.
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Conversão pessoal: O combate à hipocrisia começa em nós. É mais fácil apontar os fariseus de hoje do que reconhecer o “pequeno fariseu” dentro de cada coração.
Conclusão
Jesus não rejeitou os fariseus, mas os chamou à conversão, desmascarando sua hipocrisia e convidando-os a uma vida autêntica. O mesmo convite ressoa para nós hoje.
Seja no campo religioso, seja no campo político, precisamos aprender com o Mestre: não basta se dizer conservador, comunista, progressista ou tradicionalista. O que conta é viver de modo coerente, com um coração purificado, capaz de unir fé, justiça e misericórdia. Assim, evitaremos repetir o erro dos fariseus de ontem e seremos verdadeiras testemunhas de Cristo no mundo de hoje.