Eu olho para o que está acontecendo em Gaza e me pergunto em que momento perdemos completamente o senso de humanidade. Crianças morrendo de fome, hospitais colapsando, famílias soterradas em escombros, e o mundo... calado, dividido, distraído. Há quem diga que é “complicado”, que há “dois lados” — mas desde quando a fome de uma criança precisa de justificativa? O que me assusta mais do que a tragédia é o silêncio e a frieza de muitos que se dizem defensores da vida, mas que, diante de uma crise humanitária, escolhem o lado político em vez da compaixão.
Ideologias cegam, e ninguém ousa morrer por um inocente, ninguém ousa abrir mão do próprio conforto para salvar quem sofre. “Ai dos que ao mal chamam bem, e ao bem mal” (Isaías 5:20). Muitos vestem a máscara da religião, falam de Deus, citam Escrituras, mas escondem um coração endurecido, incapaz de chorar por quem sofre. Jesus disse: “Tive fome, e não me destes de comer; tive sede, e não me destes de beber... Em verdade vos digo que, sempre que o deixastes de fazer a um destes pequeninos, também a mim o deixastes de fazer” (Mateus 25:42,45). E ainda assim, muitos que se dizem cristãos viram o rosto.
Onde está a fé, se não há misericórdia?
Onde está a justiça, se ela não se aplica a todos? A ONU tenta agir, mas é travada por interesses políticos de potências que preferem proteger alianças do que salvar vidas. A ajuda humanitária é barrada, e até mesmo a simples tentativa de levar comida e remédios é vista como ameaça. Que tempo é esse em que socorrer um povo faminto virou ato subversivo? O que vemos hoje é a consequência de um mundo tomado por lobos em pele de cordeiro, onde a religião virou escudo para o egoísmo, e a política, um campo de batalha onde a vida humana é apenas uma moeda.
“O juízo será sem misericórdia para aquele que não usou de misericórdia” (Tiago 2:13). Não escrevo isso para defender um lado político ou ideológico. Escrevo como alguém que crê em Deus, na justiça e na dignidade humana. Não preciso ser pró-Israel nem pró-Palestina para reconhecer que há um povo inteiro morrendo diante dos nossos olhos — e que parte do mundo, lamentavelmente, está mais preocupada com quem ganha o debate do que com quem está perdendo a vida.
Que Deus nos livre de uma fé sem compaixão, de uma política sem ética, e de uma humanidade sem alma.